A CARTA
Tenho sua imagem reminiscente, pálida,
Em outrora fora apaixonante, cálida,
E permeava, completa, o meu pensamento.
Não há mais aquela vontade, ávida,
De vê-la, lembrança sua é ácida,
Fruto do impudico e do seu fingimento.
Seu coração, de sentimento é desprovido,
Quando ébrio é de falso amor preenchido,
Da gelidez, seu farnesim aflora.
Nesses momentos eu era querido,
Mas na vida sóbria, fui preterido,
Razão de num ímpeto eu ir embora.
Quando iludido, na minha cegueira,
Entre as mulheres, você a primeira
A fazer morada em meu coração.
O tempo mostrou-me de forma certeira
Que você não vale nem ser derradeira,
Se lembro de ti, é sem emoção.
Sua vida célere de farra a farra
Sem querer compromisso se agarra
Viver em nau de falsas emoções,
Mas logo o vazio e a plangência
A lhe corroer a consciência
Em suas raras elucubrações.
O tempo é efêmero, vem e passa,
Não há beleza que não se desfaça
E um corpo a cansar vem surgindo.
Verá que tudo isso é ilusório,
Sem companhia pode ser repertório
Num arrependimento, poderá vindo.
Quiçá em um dia da razão se arme,
Um sino lhe toque um sinal de alarme
A mostrar-lhe a luz da realidade,
Pra depois não abraçar a desilusão
Que o tempo passou e foi tudo em vão,
Talvez do passado fique alguma saudade.
Deixo assinada aqui esta carta,
Quem sabe um dia você se aparta
De louca vida e achar o seu norte.
Prossigo a trilhar o meu caminho
Em novo horizonte, há novo carinho,
Desejo-lhe juízo, vai precisar de sorte.