NO PIAR DA AURORA

Nas veias das palavras voam sangue,

nos seus poros saem suor, saem sumo.

Palavras enferrujam, coalham, destemperam.

Seus ossos estalam, seu gozo triunfa,

sua voz ecoa por todo canto.

Algumas palavras são nômades, outras se exilam,

outras morrem pra não nascer.

Certas palavras acalentam Deus,

outros O deixam furioso mais que tudo.

Palavras aglutinam, acetinam, arrematam,

relampejam, cicatrizam.

No seu canto a vida estreia toda linda,

no seu bojo o tempo vira bebê de colo,

no seu passo o mundo se curva, se turva.

Palavras desembestam, amotinam, atiçam,

fazem gato e sapato das nossas alegorias,

dos nossos espantos, da nossa dor.

Palavram chicoteiam e acarinham no mesmo

gingado, na mesma varanda, no mesmo piar

da aurora.

Palavras afloram, envenenam, ancoram,

amordaçam, encardem, fazem todas almas

entrarem em erupção.

Nelas faço descansar meus guizos,

meus afazeres e quitutes sagrados.

Nelas reverencio a vida, as lidas cumpridas,

os chãos desarrumados, a vazão contida.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 27/01/2022
Reeditado em 27/01/2022
Código do texto: T7438499
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.