Sinal de chuva
Tarde alaranjada, o céu vai perdendo a cor, bebo o fúlgido instante de céu lindo, varrido,
relva, caminho estreito, chão piçarra, encalcado. Cerca caída, risco de arame farpado, ramo verde, aves matam a sede, flor miúda azul, cheiro de mato. Do outro lado um asfalto, acenando, vem o anoitecer, preguiçoso o lençol, algodão macio, cheiroso espera na rede, o sonho vai acontecer?
Feito poema de rua, verso arriscado, amor desejado, noite sem lua... solidão, vereda, a alma é selva, sem luz acesa. Descrita se fez a paisagem para uma alma aflita, que encontrou o seu rumo, nada está perdido, flor miúda de azulzinho intenso, sob folhagens, sobrevive aos temporais, ama os ventos, visão suavizada com seus raminhos. Estreito, alcança a ponte sobre o lago, um simples caminho que dois mundos separa; de um lado o jardim, do outro lado matos secos que habitam em mim, neste vasto universo desigual dos sonhos e da realidade. Lento o ritmo, passos querendo chegar, o desejo é força, lança sementes, ilusão sem asas, mas precisa dormir para em sonhos, a felicidade alcançar. Amar por amar sem pretensões, instante em que a alma, suspensa, nas nuvens, pode pisar, tem coisas tão inocentes, que revira, ressalta, eleva a alma da gente... feito terreiro limpo, feito cheiro de café coado. Silêncio... escuta o grilo cantar, voam tanajuras, é sinal, avisam que o inverno, virá.