O avô de um primo meu
Em um dos becos da zona sul, no bairro do livieiro
sozinho, sem ninguem, descansa um guerreiro.
Não sei das suas lutas, não conheço sua história
sei que hoje vive só, esquecido entre o tempo e a memória.
Se foi bom ou mal, amou ou foi amado
isso eu não sei, apenas sei que hoje pouco é lembrado.
Seus filhos adultos, todos ja criados
netos também ja tem, mas o avô é deixado de lado.
O corre-corre do dia-a-dia atrapalha a relação?
ou será que ele não é nem guardado no coração?
Na visita inesperada do neto distante
um sentimento paira no ar, coisa emocionante.
O olhar alegre o sorriso caracterizado
a conversa em andamento e eu emocionado.
Olhando ao redor, reparava a organização
de um homem idoso, vivendo com a solidão.
Objetos antigos eternizaram aquela cena
o açucareiro, o armario, na gaveta a tele-sena.
Os remédios sobre a mesa me deixaram preocupado
com esse homem com muitas dores, sem ninguem ao seu lado.
Como será nas noites frias sozinho naquela casa
no seu olhar eu via o sofrimento que o assolava.
Na despedida do neto distante, seria o apice emocional
mas nem um abraço foi dado ao avô maternal.
A distância talvez tenha criado a frieza no coração
e no olhar daquele homem retornava a solidão.
Cada um segue seu caminho, sem um dos dois olhar pra traz
e tudo voltando ao normal a emoção que se desfaz.
Os laços afetivos se romperam com o tempo
na solidão de uma vida a familia dura apenas um momento.
Pensando no homem sozinho e solitario
que mora no livieiro, no seu barraquinho precario.
Por um momento lembrei daquele homem sorrindo
e minutos depois seu neto se despedindo.
Um sorriso passageiro, minutos de alegria
Mas...seu sorriso logo cessou pois ele sabia, que a vida solitaria em instantes voltaria.
É isso que se recebe de netos e filhos criados?
Olhares gelidos e sentimentos congelados.
Lembrem-se que um dia ele pode partir
e não mais poderão visita-lo e ve-lo sorrir.