MUITO ALÉM DO OCIDENTE

Meus dias não cabem no tédio do aqui e agora.

São vastos imateriais territórios

dos meus passados presentes.

Pois sou na coincidência de tempos

que me transcendem e formam,

entre a memória e o sonho,

de muitos urgentes antigamentes.

Agora mesmo, há um brilho de infância na mesa do almoço,

um sabor dos outros,

que me preenchem de ausências.

Nos gestos indiferentes de algum intimo desconhecido,

surpreendo, por exemplo, a sombra de um velho amigo.

O tempo foge ao espaço

e se espalha livre como um vento bravo

que me embriaga os sentidos

no sentimento de um instante movente pelo labirinto das épocas.

Há algo desfeito de mim

na sombra de uma árvore que me viu crescer,

na música do tempo dos meus avós

que me rouba os ouvidos.

Tenho muitas idades no fundo do corpo,

mas nenhuma delas me explica

ou reduz a inércia de uma identidade qualquer.

Persisto desfeito em natureza,

além das certezas do humano,

no eterno retorno do informe

onde dorme minha finitude.

Carlos Pereira Junior
Enviado por Carlos Pereira Junior em 24/01/2022
Reeditado em 24/01/2022
Código do texto: T7436542
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