ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
Apaixonei-me em uma sala de cinema
eu sentado na poltrona
ela sorrindo para sempre na tela
Assisti ao meu filme
tantas vezes incontáveis
e ela estava de novo ali
sorrindo com seus dentes brancos
mais que perfeitos para mim
Li e reli
tudo sobre ela
sua cor preferida
o que comia
o que dizia
e quem levaria
para uma ilha deserta
As paredes do meu quarto
se transformaram em álbuns de fotografias
e só dormia cercado por ela
que levava para os sonhos
embora deles não me lembre nada
Sei o seu signo
que meu horóscopo diz ser incompatível
conheço todos seus namorados
os dois casamentos acabados
e do seu único filho que morreu
em um trágico acidente de moto
Do meu eterno amor
vejo hoje no iPad
que morreu sozinha
de morte não divulgada
aos 71 anos de idade
Nem tinha me dado conta
que a vi pela primeira vez
metade de um século atrás
O amor não tem relógios
nem comemora aniversários
Joaquim Cesário de Mello