ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

Apaixonei-me em uma sala de cinema

eu sentado na poltrona

ela sorrindo para sempre na tela

Assisti ao meu filme

tantas vezes incontáveis

e ela estava de novo ali

sorrindo com seus dentes brancos

mais que perfeitos para mim

Li e reli

tudo sobre ela

sua cor preferida

o que comia

o que dizia

e quem levaria

para uma ilha deserta

As paredes do meu quarto

se transformaram em álbuns de fotografias

e só dormia cercado por ela

que levava para os sonhos

embora deles não me lembre nada

Sei o seu signo

que meu horóscopo diz ser incompatível

conheço todos seus namorados

os dois casamentos acabados

e do seu único filho que morreu

em um trágico acidente de moto

Do meu eterno amor

vejo hoje no iPad

que morreu sozinha

de morte não divulgada

aos 71 anos de idade

Nem tinha me dado conta

que a vi pela primeira vez

metade de um século atrás

O amor não tem relógios

nem comemora aniversários

Joaquim Cesário de Mello

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 23/01/2022
Reeditado em 23/01/2022
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