... E A PRAIA CONTINUAVA LÁ
Meus pés novamente pisam
as areias cor-de-rosa
da praia do meu menino
Caminho sobre pegadas miúdas
rastros que se foram
arrastados pelo hálito dos ventos
O bravio das ondas
são amainadas pelos arrecifes
erguimentos legados de um deus
devorado pela gula insaciável de Cronos
Outras crianças brincam
construindo castelos de areia
em reinos que já foram meus
Das espumas do mar nasceu Afrodite
onde lá conheci meu primeiro amor
(não sabia que os deuses
podiam ser castrados)
Era quase pálida e sardenta
usava óculos fundo de garrafa
e tinha as madeixas laterais
sempre amarradas junto à cabeça
Ritinha
era assim que sua mãe lhe chamava
toda vez que ia embora
levando-a de mim
muito antes de conhecê-la
Nas margens desse corpo de água
onde o oceano acaricia o chão
esculpi-me molhado de sol e sal
Era feliz
e todos estavam nos retratos natalinos
Onde estão as conchas e os búzios
que um dia aqui deixei?
Joaquim Cesário de Mello