... E A PRAIA CONTINUAVA LÁ

Meus pés novamente pisam

as areias cor-de-rosa

da praia do meu menino

Caminho sobre pegadas miúdas

rastros que se foram

arrastados pelo hálito dos ventos

O bravio das ondas

são amainadas pelos arrecifes

erguimentos legados de um deus

devorado pela gula insaciável de Cronos

Outras crianças brincam

construindo castelos de areia

em reinos que já foram meus

Das espumas do mar nasceu Afrodite

onde lá conheci meu primeiro amor

(não sabia que os deuses

podiam ser castrados)

Era quase pálida e sardenta

usava óculos fundo de garrafa

e tinha as madeixas laterais

sempre amarradas junto à cabeça

Ritinha

era assim que sua mãe lhe chamava

toda vez que ia embora

levando-a de mim

muito antes de conhecê-la

Nas margens desse corpo de água

onde o oceano acaricia o chão

esculpi-me molhado de sol e sal

Era feliz

e todos estavam nos retratos natalinos

Onde estão as conchas e os búzios

que um dia aqui deixei?

Joaquim Cesário de Mello

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 22/01/2022
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