sangue dos confins

Sangue dos confins

Enquanto o cão sem nome

Queima as patas na calçada

Seremos uns seres sem raça...

Enquanto uma criatura se rói

Nuns ossos nus da queimada

Teremos como fartura rasa

Nas mesas fartas de nadas...

Aqui onde choram as mães

O leite que a elas falha

Ao filho nascituro definha

Por deficiência mandada...

O que quer seremos nós,

Assistindo tal mancada?

Seremos humanizados

De desumana subastada?

De que vale tanta secura

Se o tempo a todos rala

Nas licitudes da trilha

Sumida na enxurrada?

Por mais o tempo definha

A raça por nós formada

O choro que se avizinha

Fará coro na tarde aziaga,

Que a profecia de sábios

Será enfim derramada

Na colheita desta vinha

Amarga por tão pisada

Que a messe se alinha

À tarde desabusada...

D’onde o grito desespera

A espera por nada...

Enquanto rui-se a casa

De só tijolos montada

E a cria que se cria nata

Se volta contra a chibata

Deste incólume senhor

Trazido d’outras pragas...

Das terras distantes sopra

A impertinência ajustada

À pandemia que assola

Povos ricos de mansarda...

Guia-se a frota anuviada

Por mares acomodados

Na quarentena forçada

Que a todos avassala

Enquanto sofrem nobres

De terras tão abastadas

Entre outras, arrasadas...

Porquanto riem bastardos

Que o tempo lhes faça

Carinho de má figura

Entre ligúrias deixadas

Por sua pouca estatura

Como membros de raça

Que mingua a olhos vistos

Nas tardes desabastadas...

E neste jogo se volta

À condição de herdeiros

Da praga dizimadora

De nobres e pereiros

Das traças desses rincões

D’onde surge desespero,

Seja covarde ou herói

Nem sabe se vai primeiro

Neste roçada macabra

Que bota na mesma estrada

Trastes de vários celeiros

Num pacote de morrentes

Trazidos ao mesmo leito.

sergiodonadio

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 22/01/2022
Código do texto: T7434767
Classificação de conteúdo: seguro