Sem Boia

Secaram as dores do peito,

Já não há seiva como alimento,

Já não há nada para beber,

Ali mento,

Recto para manter o olhar fixo,

Asfixio-me, se respiro é por prazer,

Secou a voz como primeiro instrumento,

Pois, a fala não traduz sentimento,

Cortou o grito a liberdade,

Secas foram as lágrimas caídas,

Na nua e crua verdade,

Como valsa sem parar de dança,

Danças trémulas das minhas mãos,

Calejadas na forja de um tostão,

Que gemem os chãos que me queimam,

Defino-me, como prefixo polissêmico,

Atirado a esquerda de um zero,

Essa parece ser a justa definição,

Que em mim cabe,

Pensamento vadio,

Quem sabe...

Que vagueia no tempo impróprio,

Tentando manter sombria a esperança,

Pois, as oportunidades andam embriagadas,

Já não se ouvem sinos nas alvoradas,

Há uma lacuna bem no meio,

E no fim de cada estrada,...

Ninguém enxerga os passos,

Há névoa que engole o silêncio,

Num desejo frio,

Que nem excitam os seios,

Todos apoderaram-se...,

Conjugaram-se na primeira pessoa,

Deixando-me à margem do escasso minuto,

Lá bem na proa,

Para que me jogues ao fundo,

Da água negra,

Aqui em cima já não há boia,

E quando me afundar,

Aguardarão eles o meu,

Corpo insuflado de água,

E tempo recordar-se-á da minha frustração (...)

(M&M)

Daniel Miguelavez ou Merlin Magiko
Enviado por Daniel Miguelavez ou Merlin Magiko em 20/01/2022
Código do texto: T7433623
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.