Sem Boia
Secaram as dores do peito,
Já não há seiva como alimento,
Já não há nada para beber,
Ali mento,
Recto para manter o olhar fixo,
Asfixio-me, se respiro é por prazer,
Secou a voz como primeiro instrumento,
Pois, a fala não traduz sentimento,
Cortou o grito a liberdade,
Secas foram as lágrimas caídas,
Na nua e crua verdade,
Como valsa sem parar de dança,
Danças trémulas das minhas mãos,
Calejadas na forja de um tostão,
Que gemem os chãos que me queimam,
Defino-me, como prefixo polissêmico,
Atirado a esquerda de um zero,
Essa parece ser a justa definição,
Que em mim cabe,
Pensamento vadio,
Quem sabe...
Que vagueia no tempo impróprio,
Tentando manter sombria a esperança,
Pois, as oportunidades andam embriagadas,
Já não se ouvem sinos nas alvoradas,
Há uma lacuna bem no meio,
E no fim de cada estrada,...
Ninguém enxerga os passos,
Há névoa que engole o silêncio,
Num desejo frio,
Que nem excitam os seios,
Todos apoderaram-se...,
Conjugaram-se na primeira pessoa,
Deixando-me à margem do escasso minuto,
Lá bem na proa,
Para que me jogues ao fundo,
Da água negra,
Aqui em cima já não há boia,
E quando me afundar,
Aguardarão eles o meu,
Corpo insuflado de água,
E tempo recordar-se-á da minha frustração (...)
(M&M)