Das Feiuras de ter Certezas

Cansei de seguir caminhos

Cansei de trilhar estradas

Cansei ...

Cansei !!!

E cansado, pude, então, transcender - sorri

Dos abismos

Em que eu tropecei sem nada sentir ,só olhei sem nada perceber

E pude, então, de novo sorrir

E rindo de mim mesmo

Pude, então, sentir

Com o clarão das tochas da Beleza cerradas em meus punhos a acender e aquecer meus instantes

A clarear minha cara e a tostar minha mente e a me fazer explodirem sorrisos por dentro de mim

A iluminar minhas estradas e caminhos e sementes

Que me fizeram compor outras estradas e outros frutos

Me fizeram compor

Outros caminhos e outros sonhos

Agora, com a coragem de não ter mais certeza de nada !

Pois, cego segui com tantas verdades com suas rédeas e cercas

Não pude ver

Não pude olhar

Não pude sentir

Não pude pulsar

Mas pude decidi e enxergar

E só agora posso jogar essas certezas por entre as labaredas dos subsolos dos infernos em lamaçais pútridos de horror

Onde residem seus demônios com suas certezas teimosas

Oriundas da demência

E da miopia de olhar sem ver

seus livros, seu púlpitos e seus altares - ditos e tidos como sagrados

Cobertos de mentiras e alicerçados de ganancias, de usuras e mesquinhez dos olhares fastiosos, enfeitiçados

por regras cegas de tudo lucrar e levar vantagens !

Hoje, sem essas tais certezas

Sigo como um outro cego mas enxergando quase tudo porque sinto o que vejo: as verdades se desdobrarem sem mistérios mas com viços seminais

Quase tudo pulsa e vibra sob a ótica da leveza que dança, canta, encanta e me faz existir

Num mundo não só meu

Mas de todos que se despiram

E corajosos e nus dos medos impostos, das tolices propagadas

Dos infernos edificados com os substantivo covardia

Hoje, nutro a minha vida,

Colorindo os meus instantes,

Com a força matriz

Que sacia a nossa fome e a nossa sede

De Bonitezas!

Hoje, não mais anêmico

Mas sedento por comer e por beber poesia

Sem avarezas e sem as demências

Que nos provaram

Outrora cego com a certeza de ter certeza com suas rédeas e cercas

Hoje, com meus punhos cerrados

Só tendo as flores como armas

A perfumar e a fecundar os ares do meu mundo fecundo de leveza

A nutrir de coragem e ousadia sem ganância e sem usura

Por uma vida não mais pautada em certezas encurraladas, tão secas e tão ríspidas , tão duras e tão íngremes

Tão caretas de tão cegas

Em mãos dos que gozam dos desastres de mirar cegueiras

Dos que seguem as suas verdades mórbidas, sórdidas que tanto atrofiam e anestesiam

Com o dinamismo medíocre e tosco

Desvitalizado e caduco

Mas que ainda teimam em subnutrir-se com os desmandos tortos e sem vida

Dos que seguem absolutismos rotos

E vis ! E lerdos ! E ocos !

E retos

Sob o arcabouço lógico da razão fria e crua

Hoje, desnudado

Vivo o gozo dos que existem compondo com a dor e a alegria, a arte de existir

Sem segredos medonhos , sem ritos insalubres , sem liturgias vazias

Mas com o pulsar tenaz e fascinante

Da força sutil

De todo verbo que emana Bonitezas

Sem as dores e odores acinzentados da lerdeza e da feiúra de ter razão e de ter certeza

Ontem, hoje, agora e sempre :

tudo pulsa,

e arde

e queima

e vibra

sob o princípio da leveza

de não mais me escravizar

pelo equívoco de ter

a teimosia da certeza

Com sua miopia primitiva

Que anestesia e aniquila

Todo gesto que irriga

O nascimento da Beleza

20/21012022

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 20/01/2022
Reeditado em 25/01/2022
Código do texto: T7433524
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