SENTIDOS

Olho, como se transparente fosse,

Pálpebras pétreas, janelas abertas

Que desnitidam as formas irreais,

Vertigem de cenários embaralhados.

Ouço, como se ensurdecedor fosse,

Tímpanos martelam, trompas abertas

Que percutem soltas notas irreais,

Acordes de arranjos embaralhados.

Sorvo, como se recogitado fosse,

Traqueias trancam, bocas abertas

Que trituram o mel de sabores irreais,

Azedo ácido de fel embaralhados.

Tateio, como se vendado fosse,

Bracos crispam, mãos abertas

Que recusam os afetos irreais,

Crio de carícias embaralhadas.

Cheiro, como se encarniçado fosse,

Septo contrito, narinas abertas

Que aspiram cheiros irreais,

Feromônios andróginos embaralhados.

Sentir, como se esgarçado fosse,

Coração pulsão, batidas abertas

Que acomodam os sentidos irreais,

Antena de sonhos embaralhados.

Cesar de Paula
Enviado por Cesar de Paula em 19/01/2022
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