NOS GALOPES INSANOS DA AFLIÇÃO
Deus existe nas frestas do medo,
nas avalanches das incertezas,
nos pousos trêmulos da solidão.
Existe quando todos ventos coalham,
e as mãos faltam.
Deus existe nos encardidos da incompreensão,
nas vértebras insolentes da dúvida.
Deus existe quando o tempo fraquejar,
exatamente na hora em que o sangue empedra.
Existe nos galopes insanos da aflição,
nas entrelinhas soberbas do orgulho.
Deus existe nas varandas secas da saudade,
ecoa quando os dias se cansam de prosseguir,
Deus existe assim se a voz descambar, se os olhos se sentirem
amotinados, se a fervura da fé travar,
Deus existe nos berros do caos, nas artimanhas
farsantes da alegria, nas peripécias malucas da insensatez.
Existe nos becos das derrotas, nos suores atrozes
da traição, no colo esquisito do desprezo.
Deus existe nos matagais da discórdia, nas franjas
surradas da vergonha, nas rédeas atentas da dor.