Acorde
Aline tinha problemas com o sono.
Aline acordava cedo, tomava pouco café, comia bem o dia inteiro e durante a noite dormia como uma pedra. Pesada.
Mas eu disse que Aline tinha problemas com o sono. Devo justificar.
Aline, enquanto dormia, sonhava. E sonhava muitas coisas. Muita coisas mesmo.
Aline, durante a noite, de olhos fechados, era capaz de criar roteiros para diferentes gêneros.
Aline é escritora e sonha acordada em um dia ver sua criatividade preencher as telas dos cinemas.
Mas, eis o grande problema: ela não consegue lembrar de nada ao acordar logo cedo. De nada. Absolutamente.
Sofria.
Dia após dia.
Sofria.
Comprou caderno e caneta. Mesa de cabeceira já existia.
Repousou ali ao lado da cama para salvação os dias de glória.
O caderno e a caneta seriam a a sua cola na manhã do dia seguinte, ainda que com as letras tremidas e sonâmbulas.
Despertador.
Sono...
Despertador.
Sono...
- Acorda, Aline!
No café da manhã o gosto de que sonhara com algo na noite anterior.
Caderninho, caderninho...
C o r r e a t é o q u a r t o
Abre o caderno e lá está escrito "homem se apaixona pela mulher"
E ponto final.
Só isso,
Mais nada.
Nada.
Simples e comum como uma manhã de feira. Assim.
Aline então concluiu o que no fundo já sabia.
Não era boa escritora. Não tinha boas ideias.
Sonhava demasiadamente simples porque acordada era quando vivia as melhores histórias.