MISTÉRIOS

Tem uma mulher sobre rodas.

Ela, com a janela à vista, vem na rota

dos mapas traçados,

grafite em dorso,

dos poemas inteiros

feitos pelo corpo

que, em chama, arde nu em pele!...

Uma mulher flutua sobre rodas.

Ela, sem sonhos á prazo, vê a fantasia

do abraço completo,

um beijo de corpo,

do cheiro guardado,

um perfume ansioso,

que, lentamente, sobre rodas vem!...

E, ao chegar enfim, sem pressa,

abrirei página por página do teu corpo,

tocarei nele linha por linha, traço a traço,

virgula por vírgula, exclamação de orgasmo.

Uma mulher se masturba sobre rodas.

Brinca de reler a fantasia

dita nas cartas, quase em versos,

sabe que o fim da viagem está bem perto.

Uma mulher chega sobre rodas.

É o momento exato de reaprender

a escrever com a mesma caligrafia

de quando criança de letra bonita.

A mulher chega sobre rodas.

Ela, tão cansada, qual um poema antigo

se refez sob a ducha mais morna,

respingou mistérios da poesia em nudez.