Trégua

Na epiderme rugosa do arvoredo,

em vários tons de verde, cinza e marrom,

os musgos se agarram,

os liquens se espalham.

O bosque, depois da chuva

insistente e duradoura da semana inteira,

festeja o Sol

que finalmente deu as caras.

O astro-rei, nas alturas,

mal pode esperar a vez para tocar

os colossais troncos enverdecidos.

Enquanto isso,

distrai-se nas copas das árvores, entre os verdes, as cantigas e os pássaros.

As cigarrinhas ensaiam um zizizi

eufórico e descompassado.

Os bem-te-vis dão notícia de tudo que vão vendo.

E são muitas as novidades!

O poeta, enfim, deixa a toca

e, sacudindo o mofo dos ombros,

arrisca um passo na trilha quase extinta pela lama;

e rascunha um verso que nasce tímido e atônito,

desacostumado, já,

da luz, que há tempo não brilhava tanto

como nesta manhã

surpreendentemente ensolarada.

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 12/01/2022
Reeditado em 19/01/2022
Código do texto: T7427930
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