Trégua
Na epiderme rugosa do arvoredo,
em vários tons de verde, cinza e marrom,
os musgos se agarram,
os liquens se espalham.
O bosque, depois da chuva
insistente e duradoura da semana inteira,
festeja o Sol
que finalmente deu as caras.
O astro-rei, nas alturas,
mal pode esperar a vez para tocar
os colossais troncos enverdecidos.
Enquanto isso,
distrai-se nas copas das árvores, entre os verdes, as cantigas e os pássaros.
As cigarrinhas ensaiam um zizizi
eufórico e descompassado.
Os bem-te-vis dão notícia de tudo que vão vendo.
E são muitas as novidades!
O poeta, enfim, deixa a toca
e, sacudindo o mofo dos ombros,
arrisca um passo na trilha quase extinta pela lama;
e rascunha um verso que nasce tímido e atônito,
desacostumado, já,
da luz, que há tempo não brilhava tanto
como nesta manhã
surpreendentemente ensolarada.