Às musas(?)
Musa que contempla o Belo
Se a ti não socorre a mão
Do artífice habilidoso
O canto cadenciado
As palavras do poeta
Estarás pra sempre muda
Adivinhando o colóquio
Prazeroso que seria
Do belo refigurado
Transpassando todo o ser
(E quem transpassa não fica;
O segredo é escravidão)
Devora o que vês e joga
A sorte a quem mais compete
Ser arauto do teu jugo
Eu sem ti sou sem sentidos
Tu sem nós um corpo mudo
Não esperes mais profícuas
Mentes, clarões do absurdo,
Divida comigo a triste
Façanha de boa angústia
Vai que não nasce um Camões
Ou outro de menor porte
Musa, reinventa tua sorte:
Não mais em confusos vultos
Inteiro o que inteiro vês
Dá luz o que tu vês luz
Não nos incite penumbras
Liga os nervos dos teus olhos
Às inermes minhas mãos
Assim se eles forem bons
—E todos julgam que são—
Traçaria o sempre exato,
Impoluto; perfeição!
Eu a própria voz do Belo
...
Assim seria um operário
Autômato constrangido...
Mas acaso sou só isso?
Toda alma quer sua mão
Nesse mundo movediço;
Não.
Mais vale ser artesão.