Os Invisíveis
Os desdentados, farrapos do sistema ,
Os coisificados pela Sede e pela Fome Neoliberal como nova razão no mundo !
Os sem nada , os quase nada !
Os objetificados pela Fome e pela Sede dos esquemas e manobras políticas que mais matam com seus sorrisos postiços !
Os esqueléticos em esqueletos esquecidos, famintos e sedentos pela cura do que lhe falta em abundância : a beleza da esperança !
Os desdentados, os sem dentes,
Tão ausentes , tão distantes , tão invisíveis !
Mas tão distintos com seu requinte na prosa , no trabalho duro de suor -ardor na cara tendo o sol quente como testemunha a castigar !
Esses tão presença que fundamenta a estética dos derradeiros, dos oprimidos, dos sumidos, dos corroídos pela miséria maquiada pelas regras que legalizam tantos maus tratos, tantas cicatrizes
Os infernos desses tão tratados como pequenos , desdentados !
Mas com um sorriso na cara, com outros sorrisos engavetados pela falta de dignidade de poder ter seus dentes de verdade !
Os envergonhados mas com a coragem de ser quem eles são
Os sem comida,
Sem água !
E sem fogo !
Sem teto !
Mas que compõem a vida com o sopro dos seus corações
Que irrigam seus dias com o pulsar dos seus instantes !
Os sem sapatos, sem saltos,
Mas que fazem rastros com o perfume de suas andanças !
Os sem grifes, sem créditos mas com seus débitos em dias
Sem cheiros dos logotipos, sem cidadania
Mas que tecem seu dia a dia com a dignidade do brilho da luz do seu candeeiro que irradia seu cheiro e alumia destinos
Os sem gás , sem carne ,
Os que "comem" ossos !
Que reviram as suas horas !
Que vendem os seus dias !
Mas que não algarismam as suas manhãs !
Sem demora e sem medos
Mas não se vendem ,
Não se trocam ,
Não se rendem ,
E não se curvam perante
A covardia de não ser quem eles são !
Sem terapias , sem academias , sem pratas, sem ouro sem luxo e sem dentes
Mas com a consciência latente na direção do sol nascente!
Os sem letramentos, sem diplomas , sem graduações , patentes
Mas que assinam seus nomes com as digitais de sua esperança, com o suor dos seus dias que irrigam os seus dias que se findam sem causar medos !
Os sem idiomas, sem logotipos, sem as costuras refinadas , sem certificados !
Mas sem máscaras,
Sem maquiagens,
Sem os dentes , sem as bundas , sem as bochechas delineadas por implantes abusivos
Sem próteses douradas
Sem beiços inchados, carnudos com recheios que se liquifazem com
a teimosia do tempo
Sem gestos demarcados,
Sem sorrisos postiços !
Sem sorrisos ensaiados!
Sem gestos múltiplos
Que suplicam em silêncio
O devaneio dos seus descaminhos
Os sem as espertezas avarentas
Mas com a sabedoria das vivências que lhes conferem cores e sabores em cidadania!
Mas o desempeno corporal nítido e absoluto do trabalho bruto de suor - sangue no rosto apressando as marcas no franzimento da testa e o nascimento de rugas precoces
Os sem etiquetas ,
Sem talheres e sem horários,
Sem espelhos, sem livros ,
Sem museus, sem passaportes,
Mas que comem com suas mãos limpas da injúria de lucrar às custas da força bruta da labuta alheia!
Os sem ritmos,
Os sem pneus ,
Os sem estilos ,
Que falam alto ,
Mas que dizem e vivem as suas verdades!
Sem o alinhamento serviçal das abusivas demandas que comandam e humilham, abusam e demandam
Os sem endereço,
Os sem preços,
Os sem preces ,
Sem ritos ,
Os sem dígitos,
Sem liturgia,
Sem algorítimos,
Mas que brilham com seu valor que cheira a gente !
Os sem nomes ,
Mas que são números em votos numerosos - vitórias de outros vitoriosos !
Os sem glórias
Que ainda sorriem com os cheiros da chuva !
Os sem jóias,
Os sem os aromas !
Os sem os cheiros !
Os sem as demandas dos códigos de barra!
São Josés, são Marias , Dasdor, são Brasilinas, donas Bias, Bidés, são Asterios, são Crispianas, Severinas e Severinos , Joaquins, Serafins , Josués, Judites, Terezas, Joanas, Franciscos , Antônias e Joaquinas, Serafinas, Tiburcios, Josefas, Antônios, Todinhas, Joanas, Coleta de Jesus são nomes sem nomes
Mas que incendeiam
Seus dias com bem aventurança do Bem Viver !
Que se arrepiam com a beleza de cada amanhecer !
Os sem metas, sem cais
Sem objetivos promíscuos
Mas que atiram a flecha do arco - iris dos seus sonhos
Nutridos da Beleza e da Boniteza de ser quem eles são :
Mulheres e Homens
De valentia nobre
De coragem rara
Mulheres e Homens
De risadas largas
Porque sorrir é irrigação que emana da profundeza das suas almas
Que independe
Das regras cegas
Dos muros toscos
Das cercas ínfimas
Dos que fingem viver a vida
De carona em sorrisos maquiados de mentiras!
Os sem livros que escrevem na vida e na teia do mundo sua infinitude e eternidade!
Os esticados no curtume da feiúra dos descasos de homens desumanos que manipulam leis
Opressores que gozam do poder de aviltar suprimir sonhos sem poder matá-los porque matam a si mesmos
São cadáveres de almas sem cores e sem pudor que perambulam por caminhos sem cheiros
Com seus úteros secos desvitalizados
Sem os átomos do poder da Boniteza
Que emanam da alma dos seres livres
E de rara beleza
Que semeiam flores raras no mundo inteiro com seus corpos forjados com a teimosia da pertinência dos sonhos, da utopia: maior boniteza não há !
Pois se irmanam com sangue vivo que faz da solidariedade e empatia , da cooperação e harmonia em comunhão desse povo e dessa gente que teima como anônimos: mulheres e homens florescerem em abundância
Irmãos sem laços sanguineos mas ligados em atos e atitudes de sonhar e de sorrir,de se embelezar com as cores que saem de dentro pra fora,coma bom a beleza que mora na alma !
Anônimos compondo as suas histórias, tecendo e compondo com os fios da alegria e da memória do sabor e do saber brincar !
Com seus corpos sem a anestesia dos interditos que certos homens não conseguiram impor - lhe como noção de pecados !
São corpos sem a disciplina da cultura dos utilitarismos e futilidades consumistas que se alastram pelos alicerces de mutação neoliberal que finca seus ditames e prolifera sua razão de cegar toda cegueira cotidiana
Essa deformação mascarada de transformação !
(raicarvalho)
09012022