O silêncio corta o barulho —

O silêncio corta o barulho —

o contrário não acontece.

A dor pode matar o orgulho —

de orgulho a dor não se arrefece.

Solidão vence a companhia,

a companhia ela entorpece! —

mas nem amigo nem família

da solidão nos desguarnece.

A fome assassina a fartura —

a fartura só adia a fome.

O ódio destrói a ternura,

mas na ternura o ódio não some.

E disse uma vez um sujeito

que tinha até muito renome:

a nossa vida não tem jeito,

o nosso jeito nos consome.

A fome assassina a fartura,

o silêncio corta o barulho,

o ódio destrói a ternura,

nossa dor mata nosso orgulho.

Mas disse uma vez um sujeito

que tinha até muito renome:

se é pra ficar satisfeito,

cava um buraco, deita e morre.

A fartura, ela adia a fome;

silêncio faz mais que barulho;

ternura às vezes ódio come;

e tem quem da dor sinta orgulho.

08/01/2021

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 08/01/2022
Reeditado em 15/01/2022
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