HIPOTECA
Não quero melodias adormecidas no papel,
Nem o amarelar das folhas na gaveta d’um quartel.
Escrita silenciada sem chance de ser empoderada.
Quero antes que repouse palavras vivas sem fim,
No orvalho que traz o dia ou ao escurecer o jardim.
Que a espinha dorsal fecunde um bom rebento
E a alma sinta vontade de registrar o evento.
Que o habitat seja seguro,
Com garantia a longo prazo.
E que do contrato da legalidade,
Ecoe rimas de serenidade.
Do cabo do bojador não tenhamos mais medo.
E a trincheira da vida seja bálsamo e guarida.
Que o dito expresse afundo, sendo brando ou profundo,
E que o registro seja a hipoteca do pensar de um poeta.
Negra Aurea: 08/01/22