Anseio
Pensar, pensar
Sinto que no futuro
Placidamente, Netuno
Conduza-me aos mares
Dos quais nunca pudera
Deixar de sonhar
E, vez ou outra
De meus olhos fugaz luz
Corre, esconde-se, se esgueira
Para poder ser luz maior
Diante dos olhos d'alma
Estes olhos que agora se podem notar
E desespero, vil caráter
De meus pés que relvas calçam
De meus sentires que às estrelas e deuses
Abraçam e querem traduzir
Se deixar-me os aprisiono
Perto de meus maiores anseios universais
O que importa-me é o canto
Passageiro dos pássaros
Mas livres, pois, têm de os estar
Livres, tais a voar
Sob as ondas de meu mar
E as estrelas que ascendem-me
O coração e as dores de viver
Amor da vida
Como Vênus ama, amantes
Dá-me, Afrodite, em recomeços
Tais súditos que somos todos
Das dores de amar, tanto
Amar um mundo que não existe
Aqui, sei que de alturas mortais
Tal Ícaro não sou capaz
Asas hão de desfazer-se
No alto, tão alto
Sou o abismo
Própria minha hosana e execução
Ah se eu pudesse traduzir-me toda...
Quanto ao mais me conheço
Mais estranha sou
Estranha, ao adentro
Um mito
Um epitáfio sem fim.