Anseio

Pensar, pensar

Sinto que no futuro

Placidamente, Netuno

Conduza-me aos mares

Dos quais nunca pudera

Deixar de sonhar

E, vez ou outra

De meus olhos fugaz luz

Corre, esconde-se, se esgueira

Para poder ser luz maior

Diante dos olhos d'alma

Estes olhos que agora se podem notar

E desespero, vil caráter

De meus pés que relvas calçam

De meus sentires que às estrelas e deuses

Abraçam e querem traduzir

Se deixar-me os aprisiono

Perto de meus maiores anseios universais

O que importa-me é o canto

Passageiro dos pássaros

Mas livres, pois, têm de os estar

Livres, tais a voar

Sob as ondas de meu mar

E as estrelas que ascendem-me

O coração e as dores de viver

Amor da vida

Como Vênus ama, amantes

Dá-me, Afrodite, em recomeços

Tais súditos que somos todos

Das dores de amar, tanto

Amar um mundo que não existe

Aqui, sei que de alturas mortais

Tal Ícaro não sou capaz

Asas hão de desfazer-se

No alto, tão alto

Sou o abismo

Própria minha hosana e execução

Ah se eu pudesse traduzir-me toda...

Quanto ao mais me conheço

Mais estranha sou

Estranha, ao adentro

Um mito

Um epitáfio sem fim.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 06/01/2022
Reeditado em 15/11/2022
Código do texto: T7423503
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