PUTEIRO
Com as vistas ausentes
Janaína chora a distância
dos tempos morados no mar.
Desceu na rampa do Mercado
na cidade que a viu de tão alto
de chinelos em couro e contornos
com pés prontos para ouro e prata.
Tomou cerveja, sururu e lambreta,
esperou a noite descer para subir
a ladeira da Montanha e conhecer
sua madrinha que lhe prometerá
cama, comida e robe comprido
- daqueles dos meios de pernas –
Janaína tomou conta do ambiente.
Não tomava chá de cadeira.
Em meio a tanta disputa,
as putas, com ciumeira,
envolveram-lhe no enredo.
Seu amigo, o Zé Piniqueiro,
de viado e pombo-correio,
passava-lha os recados
dos poetas sem dinheiro
dos seresteiros a cantar
dos estudantes tarados
dos homens viciados
pelo vendido corpo de mulher
que atravessou o recôncavo.
Do Anjo Azul para o Onze
do Sete Três ao Meia Três,
com a morte de Zé Piniqueiro
Janaína ficou sózinha.
Sem amigo e sem madrinha
foi pra uma casa aberta no Pelourinho
e passou a morar de favor em troca
do dinheiro de mal procedência
dos vagabundos do mangue.
Janaína queria ver o saveiro
que com ela trouxe esperança
de mar para os olhos doces
que hoje anda a chorar e chorar.
Montanha, no fundo o Mercado,
um quartinho improvisado
sem poetas, sem saveiros
ou sequer um namorado
Janaína voltou ao mar
mergulhou ao doce
morrer sem voltar
morna e doce
à tona d’água:
Janaína de Oxum!