Caminhar é dura tarefa
faz doer bem mais que os ossos,
faz arder bem mais do que os músculos,
faz cansar bem mais do que o coração.
Digo caminhar no sentido da vida,
do trajeto que nos abre,
do destino que nos atiça,
da luz que não nos deixa morrer.
Caminhar coloca nossa alma à prova,
faz fluir tenacidades que pensávamos ser miragens,
faz valer guerreiros que teimávamos em não alforriar.
Hoje que a velhice se aconchega em mim,
hoje que perdi a conta das vezes em que caí, e levantei,
hoje que dá gosto olhar pra trás e ver tanto chão pisado
que, de fato, sorri pra mim.
Então nesse meu caminhar já meio calado, meio solitário,
consigo aplaudir frutos nascidos do meu suor,
consigo abraçar vitórias que custaram tanto pra florir.
Nesse ponto da jornada consigo agradecer por ter chegado até aqui,
consigo acariciar meus calos, meus cabelos brancos,
meus sonhos queridos e amaldiçoados, meus desdéns e senões,
consigo reconhecer que valeu a pena não ter pulado fora e
nem jogado a toalha,
consigo aplaudir de pé tudo que me foi merecido,
parido, aquecido, abençoado e, sobretudo, amado.