LEMBRANÇA DA MULHER DISTANTE
Perdoa, mulher distante,
se nossos braços abraçaram a ausência,
se meus olhos vesgos reviraram o infinito
se teus olhos vagos morreram de horizonte.
Perdoa esses dois mil longos quilômetros
que nos separaram do primeiro salão grená
com beijos caligrafados dos teus lábios carmim
com meus cheiros remetidos no envelope branco.
Perdoa essa nuvem que aí cai torrencialmente
ao som dos imbecis e dos românticos dementes
a minha espera de estio para comover enchentes
nessa tua terra quente em tersóis de olho na saudade.
Perdoa o medo da separação, mulher distante,
já que necessário se torna morrer de cama vazia
com pernas tropeçando na fragilidade do oco instituído
até onde espicharás tuas pálpebras para só ver escuridão.
Perdoa as cartas que escrevi e calei
Perdoa a homilia pregada aos aflitos
Perdoa o braço do rio que corre em disparada
Perdoa a natureza da imagem metaforizada
na disformidade errante
de tocar no irretocável
dos corpos em banho-maria
à espera mais eqüidistante
do esperado abraço.