O MELHOR DE SER PAI
Que bom que é ter um filho,
poder iluminar, alinhar, atiçar, acolher.
Poder fazer e depois jogar pro mundo,
pra que o mundo o possa escorar, sacudir, decantar,
desfraldar e arrematar.
Que delicioso que é ter um filho,
poder parir, remexer, virar do avesso.
Abrir atalhos, contar segredos, ser cúmplice nas armadilhas,
ser o detalhe nas suas façanhas,
ser o parceiro mais presente quando a vida
assim permitir.
Que maravilhoso que é ter um filho,
pra poder se atracar, negar, perdoar, amar.
Poder descobrir juntos caminhos pra depois abraçar com fé,
corrigir os nódulos malvados pra nunca mais voltar
a dedilhá-los, se possível assim for.
Que surrealista que é ter um filho,
esculpir os códigos, rascunhar os sentidos,
decantar os desejos, dissecar os azedos, destampar os mofados
e, sobretudo, erguer o futuro nas ancas da asa predileta.
Mas no fundo, bem lá no fundo,
a melhor coisa de ter um filho
é conquistar o direito de ser chamado de pai por toda vida.