O CHEIRO DO DONO

O cheiro do dono sobrevive à lavagem de suas roupas.

Fica impregnado indelével na pele do tecido mesmo

depois de mergulhar no sabão e ser retorcido e virado sem dó.

O cheiro do dono é soberano sobre a mão do tempo,

resiste bravamente ao passar dos dias com todo vigor.

O cheiro do dono fala muito das suas peripécias,

perpetua o suor nos fios da alma impune, impávido, incólume.

Esse cheiro resgata cada fiapo de vida que o dono

traduziu, cada pedaço ungido de chão percorrido,

cada tropeço, cada rastro tocado de dor, de fé, de paixão, do que quiser,

do que for.

É estandarte iluminado, passível de se flagrado

por quem tiver o olfato liberto, sem amarras, sem

rédeas, sem medos.

O cheiro do dono é um tipo de bênção suave,

algo como o primeiro mamar, o primeiro beijar,

o primeiro morrer.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 04/01/2022
Reeditado em 04/01/2022
Código do texto: T7421396
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