Que sinto da vida

Se é preciso que se disforme um querer

Ou que se solidifique um nada ser,

Queiramos da vida o que ela nos tem a ofertar? Viver é querer.

Querer demais é do ser que respira

As árvores e plantas não se contentam

Com seu tamanho

Se rameiam e crescem para além de seus limites - sejamos como estas.

Sejamos como os astros em sua perfeita sincronia - a vida quer nos aquecer e esfriar.

Lidar com isso é aprender a ser vivo.

Lidemos com nossos instintos que se assemelham quais animais selváticos

Em busca de alimento

A força e violência dos rios e mares, e antigos guerreiros

À vaidade dos deuses

Assemelhemo-nos não só aos trajes dos reis e príncipes

Mas em sua astúcia ao perseverar.

Quando eu for-me embora da vida

Quero ter-me dito as últimas palavras que são estas:

A vida me deu algo que soube valorizar: tempo.

Me deu boa ambição: sentir mais que ter.

Me deu dia e noite por vez

Fez -me chorar e rir ouvindo Chopin

Fez -me ir ao piano

Fez -me escrever o que sentia - e o que ouvia do silêncio.

Ah! Fez -me humana por demasia

Fez -me super quando entendi que vida é para ser usada e vivida

Não aniquilada por mostrar-me suas garras

Que é a vida pura filosofia inacabada

E poesia que não se dissipa no esquecer.

Eu deixo pra trás

O passado que na penumbra não acrescenta o belo caos do agora

Em campos verdes eu fui decerto uma combatente árdua - defendi a liberdade

A vida é lutar. Seja qual for a questão.

Não há nada que não nos faça fazê-lo - nascemos assim.

O ato de respirar é uma revolução.

Para o agora, quero ter vida

Se pensei seriamente em tira-la

Não penso mais.

Eu acho que tudo o que se vive

Propositalmente nos emerge ao que seremos ao instante

Em que o furacão passar.

As tempestades do viver querem algo dizer a você e a mim

Se quis não mais vida ante outrora

É porque não mais a sentia nem ao ouvir música (meu Deus, amo música, como pude?)

Sim eu pude.

Se o choro ao ouvir Chopin fosse vazio e não de sentir

Se eu sentisse que seria uma planta fadada a permanecer no vaso a vida inteira...

Oh! Percebi que sou

Um ser que sente demais e por sentir

Que noutro plano viva mais

Preciso desta vida me valer

Viver é domar e montar dragões, alimenta-los.

Vida: obscura em facetas

Clara alvorada, auroras sinuosas e penetrantes querem tomar o ser.

Viva - pode-se viver com sua vertigem dolorosa

Há males sem cura, mas o que envolve escolhas quer ensinar o mínimo:

Da vida levaremos o nada

Da vida temos o agora imerso no tempo: que presente excêntrico e enigmático é viver!

E se daqui me canso,

Há um rio que corre dentro do peito

Uma nascente fértil fora da realidade desse mundo- um oásis em que me banho e sinto:

É a vida um sacrifício contínuo e prazer no refrigério.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 02/01/2022
Reeditado em 02/07/2023
Código do texto: T7420517
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.