AOS CINQUENTA ANOS

Aos cinquenta anos

tenho direito de escrever

como bem entender.

Eu não estou nem aí

para os críticos de plantão,

para os metidos a intelectuais,

senhores da razão.

Rimo e desrimo,

canto e recanto

as coisas mais simples

do meu sertão,

do meu ser tão,

do meu coração

que está no peito

e também na canção.

Aos cinquenta anos

dou-me o direito

de ser quem eu sou;

esse pássaro sem asas

a voar seu voo.

Aos cinquenta anos

sinto-me livre

para brincar com as palavras

como quem brinca de bolas de gude

no chão da minha Chã de Areia.

É assim que sinto-me

com meio século de vida:

livre, livre, livre,

com minha alma destemida.

Verdadeiramente livre

para escrever um romance,

para escrever um soneto,

para escrever um poema em verso livre

e rimar e metrificar, metrificar e rimar,

na hora que eu bem entender.