DOS VÃOS DA ALMA
Minha alma tem vãos guardados em algum canto
Como precipícios assustadores cultivados desde sempre
Feito jardim particular secreto
Nesses vãos anônimos e calados
Guardo melodias, encantos a granel
Guardo segredos em baús gigantes
Guardo recantos que não mostro pra ninguém
O tempo vai se esvaindo, ficando calvo, ficando sábio
Levando no seu cangote jovialidades tantas
Cicatrizando passos fora do prumo
Trazendo pra luz néctares dourados
Então naqueles vãos ásperos, agudos
Recarrego meus fluídos de fé, de perdão
Sacudo o pó dos medos, das inquietações, dos senões
Respingo o que deve rugir, resplandecer, sorrir
Daí, por fim, remido e bendito
Faço minhas as dores do mundo
Ancoro e aninho as rédeas frouxas da paz
Velejo delícias que não acarinhava, nem cerzia
Disperso nódulos avessos, galopes estranhos
E sigo no fugaz rastro das pegadas que virão
Até a vida se cansar de mim de vez