MARMITA

Homem de pouco fervor:

por que desembestaste?

Deus pôs corda na viola

pro relógio vir a atrasar,

não vale a pena correr

se o trem vir a passar,

os dormentes ficarão

e a marmita esfriará!

Vieste num pau-de-arara

com as graças de um tempo bom,

se Deus não veio com a sorte do Norte

deu-te, sem cobrar um canto, terra boa,

jerimum vermelho, farinha de tapioca,

cachaça de alambique,

Cuíca de Santo Amaro

para desafiar o santinho

amassado no bolso surrado

para um beijo com fé no pai-nosso

para a prece das seis ave-marias.

Fizeste Maria,

Isabel e Raquel,

tiveste tantas mulheres

que dedos não hão de contar

Mas não trouxeste a preguiça

se o trem intranqüilo passar

no “seja o que Deus quiser”

quando ao Sul desembarcar.

Eu só sei que não pudeste

correr mais que o lugar

e que perdeste o relógio

quando a marmita esfriou

Eu só sei que, só, pediste

para requentar fome de fé

no Deus que o trem levou.