Ando achando que levo algo secreto
Ando achando que levo algo secreto
cá no peito pulsante de rapaz.
Fico incerto: o meu peito é indireto
quando vem me contar o que ele faz!
(Às vezes quis um peito mais loquaz...
Pois, contando o que penso que ele sente,
vejo-me, de repente, ineficaz,
em saber se ele diz ou se ele mente.)
Ainda, um desejo renitente
nasce de que eu converse do que sinto;
mas e se meu amigo for prudente
e pensar que sou tolo, ou mesmo minto?
E se esse amigo for alguém distinto
cujo peito diz mais e diz melhor?
E se já resolveu meu labirinto
e vive nalgum outro, bem maior?
E, assim, fico menor, menor, menor,
sem saber se sequer meu peito fala,
e parece que tudo ao meu redor,
pelo pouco que tenho, não se abala.
Concluo que não posso saber nada,
que meu cérebro é cérebro de inseto!
Então, meu coração, vê se te cala,
e deixa que reflita o mais dileto.
Ando achando que levo algo secreto...
Sim, mas por que dizê-lo a qualquer um?
Se nada diz meu peito de concreto,
talvez não haja em mim segredo algum.
01/01/2022