NATAL 2021
O Natal aproxima-se a passos largos
e vem de braço dado com a tristeza.
Essa imagem de festa que as pessoas
e os “media” tentam passar,
não passa duma ilusão.
Perguntam ás pessoas o que é o Natal
e duma maneira ou de outra
todas respondem que o Natal
é uma época festiva, é amor, é partilha.
É a união da familia.
São doces e fartura de comida
onde não pode faltar o bacalhau, o polvo
o perú, o cabrito, o bolo-rei
os ovos verdes, as pataniscas
as filhoses, as rabanadas, o arroz doce.
São luzes cintilantes e coloridas.
São enfeites e árvores de Natal.
São as prendas
que se trocam com ar de obrigação
para não parecer mal.
Tretas!
O Natal é tristeza, sofrimento, solidão, fome
e nos dois últimos anos
agravado pela Covid19.
Agora vou falar por mim
e sei que há milhões por esse mundo fora
irmanados no mesmo sentimento.
Eu até posso ter na minha mesa
tudo o que é tradicional no Natal
mas sinto muito por quem não tem nada.
Tenho amor no coração
mas não tenho um celeiro
para matar a fome ao mundo.
Como posso sentir alegria no natal
se sei que em muitos lares
não há nem sequer uma côdea de pão?
Como posso fazer do Natal uma festa
se o meu amado filho labuta
sozinho e longe da sua querida família?
Se o meu pai faleceu no natal
e a minha mãe um pouco depois?
Eu sei que é a lei da vida
e os mortos já não precisam de nós
mas essa lei não impede o meu sentir.
Essa lei não me torna insensível.
Eu sei que são os vivos
que precisam dos meus mimos
e eu fui presente quando precisaram de mim
não poupando nos afetos, antes e agora.
Recuando á minha infância
e á minha adolescência,
houve sempre
uma ou outra nota de tristeza no Natal
e agora não é diferente.
Aprendi a viver com as minhas fragilidades,
exatamente porque sou resiliente
e bem resolvida,
fruto de muito esforço
para chegar aos porquês e á aceitação.
Apesar dos meus dilemas e lutas interiores,
nunca deixei transparecer
a tristeza que me ia na alma.
Quem está comigo,
não tem que levar com as minhas dores.
Têm direito á minha alegria e disponibilidade.
A eles eu devoto a minha mais profunda gratidão.
São os que estão presentes,
no espaço, no tempo, no coração, na vida,
que são importantes.
Parece “bonito” apregoar que Natal é amor,
é união, é partilha, é ajuda, é caridade,
mas não passam de chavões
que as pessoas aprenderam a soletrar.
Da mesma maneira quando dizem,
Natal é quando um homem quiser,
não passa duma frase feita.
Deixem-se de cinismo e hipocrisia,
o que importa e é bonito, é o conteúdo
e mãos á obra, o resto é paisagem.
Não apregoe, aja na penumbra da bondade.
Não vá atrás do rebanho,
atreva-se a fazer a diferença.
Aproveite o que é importante na vida.
Dispa-se de preconceito e egocentrismo.
Saia de si e entre no outro.
Como se sente, confortável?
O outro tem direito aos mesmos direitos.
Seja altruísta.
Livre-se da arrogância, da inveja e da ganância,
conspurcam a alma e minam o coração.
Seja livre para amar a vida,
afinal, só temos uma.
Não havendo opção, a escolha está feita.
Faça o que tem que ser feito
para não passar pela vida em vão.
A vida é uma jóia valiosa da coroa.
Natal, pode ser todos os dias.
Talvez seja por isso
que eu gosto de dar prendas
fora da época natalícia!
©Maria D. Reis
05/12/21