PADECIMENTO
No louco desejo de tê-la
Tornei-me um pobre demente
Imaginando possuir-te
Possuo a loucura somente.
Por estás sempre distante
Tão distante como as estrelas
Eu padeço sem possuir
Suas mãos carinhosas e belas.
Mesmo distante eu te venero
Como devoto venera a santa
Teu desprezo são os espinhos
Que dentro de mim você planta.
Quando meus ouvidos ouvem
Tua suave e imaculada fala
O meu coração barulhento
Rapidamente se acalma e cala.
Penso ser somente para mim
Este falar que me enlouquece
Perco a razão que eu mantinha
E um louco anseio transparece.
Mas não é para mim
Então minha alma geme
Aflora um ódio sem fim
Minha pele rígida treme.
Quem me dera então voltar
Ao inocente sonhar de criança
Para desfazer o desgosto adulto
E viver nos braços da esperança.
Apesar do esforço eu não consigo
Acalmar meu ensejo que se agita
Torre de desejos no fútil hospício
Onde essa paixão insana habita.
Sem querer, dizendo que não
Meus olhos buscam os teus
Eu encontro-te de lábios abertos
Eu encontro-te dizendo-me adeus.
Não entendo, ó bela criatura
Porque nos condena à tristeza
Padecendo-me de tanta loucura
Padecendo-te de tanta frieza.
Frieza feita em uma só geleira
A nos colocar em dois polos
Mas em mim ainda há calor
Basta olhar nos meus olhos.
Ó bela criatura, decidas então
Dar-me teu zelo eternamente
Ou aumente o teu desprezo
Que será matar-me, sempre.