ALMA QUE CHORA
meus últimos versos
ainda se põem a ti procurar
antes que minhas mãos escondam o meu rosto
antes que se apague o último sol da noite
antes que tua lembrança se torne em meu peito despedaçado
apenas uma chaga envelhecida
um passado antigo
um livro abandonado
te buscarei como ao sagrado grão do trigo
não saberei ser sempre essa alma que chora
esse triste aceno
esse inarredável noturno
ando triste meu segredo
mais triste do que as grades das cadeias
comparo-me às ruínas das casas velhas
sussurram desencontrados dentro mim
um salmo melancólico de Davi
um lamento religioso de Salomão
são farrapos de verbos
restos de luz
dorme silêncio
dorme agonia
passo noites empurrando a insônia
que me arde às entranhas
é primavera
e longe muito longe de nossas saudades
beija-flores mínimos e coloridos
adornam os cabelos de Flora
Diana caminha pelos bosques
Apolo se apaixona por Clície
Bóreas carrega os ventos
enquanto Morfeu sonha
faz dias que ando querendo te acordar
reclamo ao vento
ele só semeia teu silêncio?
meus olhos andam contando as chuvas
esse domingo alvacento
é primavera ou outono?
repara nas canções plangentes
que soam por toda a cidade
as cores que se refletem em teus olhos
são das almofadas de nuvens
que se pintam de carmesim
no final do dia
se reparares ainda só mais um pouco
verás pássaros brancos
remontando paisagens
e aqueles fios de algodão
arrepiando-te os braços em vôos suaves
serão anjos colhendo dores
o resto será saudade...