ALMA QUE CHORA

meus últimos versos

ainda se põem a ti procurar

antes que minhas mãos escondam o meu rosto

antes que se apague o último sol da noite

antes que tua lembrança se torne em meu peito despedaçado

apenas uma chaga envelhecida

um passado antigo

um livro abandonado

te buscarei como ao sagrado grão do trigo

não saberei ser sempre essa alma que chora

esse triste aceno

esse inarredável noturno

ando triste meu segredo

mais triste do que as grades das cadeias

comparo-me às ruínas das casas velhas

sussurram desencontrados dentro mim

um salmo melancólico de Davi

um lamento religioso de Salomão

são farrapos de verbos

restos de luz

dorme silêncio

dorme agonia

passo noites empurrando a insônia

que me arde às entranhas

é primavera

e longe muito longe de nossas saudades

beija-flores mínimos e coloridos

adornam os cabelos de Flora

Diana caminha pelos bosques

Apolo se apaixona por Clície

Bóreas carrega os ventos

enquanto Morfeu sonha

faz dias que ando querendo te acordar

reclamo ao vento

ele só semeia teu silêncio?

meus olhos andam contando as chuvas

esse domingo alvacento

é primavera ou outono?

repara nas canções plangentes

que soam por toda a cidade

as cores que se refletem em teus olhos

são das almofadas de nuvens

que se pintam de carmesim

no final do dia

se reparares ainda só mais um pouco

verás pássaros brancos

remontando paisagens

e aqueles fios de algodão

arrepiando-te os braços em vôos suaves

serão anjos colhendo dores

o resto será saudade...

Edmir CARVALHO BEZERRA
Enviado por Edmir CARVALHO BEZERRA em 21/11/2005
Código do texto: T74126