Desfila mudança
A vida é uma passagem
no instante do intento.
Terno doce trajeto
incerto balanço,
brisa, sopro sutil
de beleza e silêncio.
Dança suave, estreito passo
o átimo que dita o compasso
do Agora.
Agora, sempre agora
Aqui, sempre aqui.
Para sempre é o nunca
A certeza é estrela cadente
que atravessa, fugaz
o Presente.
Nunca foi, sempre será,
Eterno é.
A verdade que
teu peito vibra
junto ao meu
Não é o ontem fugidio,
o amanhã voraz.
Teu real se transforma
a cada momento
Rio que atravesse o espaço
sereno da impermência.
Constante mudança, o que se mantém.
E o grito abafado, último raio
que doira o poente,
É o abraço sólido e
voz reticente,
ao que dissolve,
rente ao teu olho no meu
[sem anúncio],
o rastro do que
proferiu tua voz na
alvorada atroz
das ideias.
O que não é
Pois que adormece nos
confins da memória,
Me envolve em coração sambista.
És o mestre sala,
sou tua passista
deste carnaval
de corpos fantasiados de
mil camadas
e mil esquadros.
Desfilas por entre as luzes sóbrias,
Maestrina do amor total,
paixão descomedida,
grito de vitória na
batalha vencida.
Chão firme, segurança
E afago
Doce encanto que
Prenuncia o ato
do proferir sereno
de versos de fleuma
e acalento.
Outra, na pequenez do curso pungente,
Desfila teu véu de incerteza, áspero medo
desejo de fuga do
negro arvoredo
Quando por ele caminhas só.
E tu andas adiante: que
não vejo.
Sobrepõe-se, uma e outra,
em enlevo de teatro mágico
És todos os atores,
O público e o espetáculo
Amanhã tu serás outro,
eu serei outra
Dirás: vou-me.
Dir-te-ei: vá.
Olharás: tornai!
Verás que jamais deixais.
Dir-te-ei, ao ver-te
pousar no jardim sem forma
de Morfeu:
No balanço das águas da manhã,
Que tu me envolvas,
E eu te envolva,
Tu, que caminhas comigo,
Em constância de
olhar o mar
E manter-se a contemplá-lo
Mesmo sabendo-o
Um desfile de ondas.