Sem título
Eis que dizes, no
afago dos versos mornos
que raiam d'o
romper da luz:
Simples, o estar.
Sente! Ouve! Vê!
Tão límpido o
timbre das
maculadas manhãs,
tão clara
a primavera
de tua juventude.
Brota doirado
do peito nu do
eterno riso de tua aurora,
vasto mundo,
vasto campo,
confins de
louros e
jasmins,
onde dançam rouxinóis e
cantam serpentes aladas.
Doce é teu sonho de
menina,
rio de candura terna que
deságua n'alvorada.
Cheira à rosa,
fronte inebriada
de vislumbre, ver-te
vagarosa:
sorri teu céu,
sonho pueril;
mélico
azul-véu.
Tantas seriam as curvas
a desenhar o descanso de
meu brando olhar
crepúsculo de teu ventre,
enlevo que acolhe
fatigado braço que
transpõe o indagar.
Repousam, meu
lábio e meu cântico de
hiato à nulidade,
verso suave, bravio
ode à mocidade.
Dize:
Simples!
Sê! Vê! Estai!
Esqueces, porém,
Que a noite faz-se
Antes de raiar o sol,
E retorna tão logo
Ele adormece.