Versos de malandro III

O que eu faço pra essa mulher

Acreditar logo no que eu digo?

Se eu já fui solteiro, nem lembro

Sei que hoje sou comprometido

Se jogas meus panos na rua

Acusando-me de traição

Saibas que é grande calúnia

Isso é coisa que eu não faço, não

Se Maria é chameguenta comigo -

Vês que, por mim mesmo, nem ligo -

Mas é porque uma vez eu salvei

O bichano dela do perigo

Se Joana contigo é invocada

Eu mesmo não tenho nada a ver

Tu procuras peleja na rua

Depois bota pra eu resolver

Desconfia quando sente em minha gola

O cheiro de um estranho perfume

Mas posso explicar sem demora:

Sem querer, eu pisei num estrume

Julga logo ser de outra mulher

O cheiro que sente em mim

Mal sabe os percalços a pé

Que eu corri pra chegar ’té aqui

É uma grande injustiça comigo

Cismar em fazer, de nós, desiguais

Deixar um velho amante sem abrigo

Achar que é ilusão; que não te amo mais

Por Deus, como estou mais esperto

Já cito Raul, bem certeiro e sem mais:

‘Quem gosta de maçã,

Irá gostar de todas,

Porque todas são iguais’

Guillherme Sotero
Enviado por Guillherme Sotero em 19/12/2021
Código do texto: T7410444
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.