Versos de malandro III
O que eu faço pra essa mulher
Acreditar logo no que eu digo?
Se eu já fui solteiro, nem lembro
Sei que hoje sou comprometido
Se jogas meus panos na rua
Acusando-me de traição
Saibas que é grande calúnia
Isso é coisa que eu não faço, não
Se Maria é chameguenta comigo -
Vês que, por mim mesmo, nem ligo -
Mas é porque uma vez eu salvei
O bichano dela do perigo
Se Joana contigo é invocada
Eu mesmo não tenho nada a ver
Tu procuras peleja na rua
Depois bota pra eu resolver
Desconfia quando sente em minha gola
O cheiro de um estranho perfume
Mas posso explicar sem demora:
Sem querer, eu pisei num estrume
Julga logo ser de outra mulher
O cheiro que sente em mim
Mal sabe os percalços a pé
Que eu corri pra chegar ’té aqui
É uma grande injustiça comigo
Cismar em fazer, de nós, desiguais
Deixar um velho amante sem abrigo
Achar que é ilusão; que não te amo mais
Por Deus, como estou mais esperto
Já cito Raul, bem certeiro e sem mais:
‘Quem gosta de maçã,
Irá gostar de todas,
Porque todas são iguais’