Gênese poética
No princípio não havia verbo
Porque o verbo estava comigo
Porque o verbo era eu.
Minha leitura do externo era interna
Num idioma em que só eu era alfabetizado.
As não-palavras voavam
como borboletas aprisionadas num vidro opaco.
Mas o desejo de estabelecer conexão com outros mundos
Até então ligados pelos fios invisíveis da consciência comum
Passava necessariamente pela matéria.
Daí, assim como um espirito se faz carne, a poesia se verbaliza
Dando origem às palavras-espelho
E mesmo que o produto final dessa transubstanciação
seja sem forma e vazio,
há que se apreciar a aura vibrante
que circunda aquelas débeis,
porém densas palavras.
Mas é necessário olhá-las bem de perto...