Ter pra que !
Ter...
Pra que ?
Pra se avolumar ?
Pra se tornar um peso?
Pra que ter ?
Ter pra que ?
Pra sobreviver afoito
Intrometido nas avarezas de viver melhor ?
Pra sobreviver como mendigo com fomes e sedes insaciáveis?
Pra sobreviver como os maltrapilhos de grifes?
Ter pra que mesmo
Pra se tornar Mesquinho!
Miúdo!
Sisudo!
Avarento!
Cego surdo mudo
Míope Torpe e Ridículo !
Ter pra que ?
Pra se emaranhar
Em devaneios
Em luxúrias
Em ostentações vagas
Tolas ocas: sementes suvinas!
Ter
Pra que ?
Pra algarismar os amanhãs
Em troca do delírio cata níquel moderno
Pra contar as pontas dos dedos sem sentir os anéis ?
Ter
Pra que ?
Pra mesquinhar aplausos!
Pra mesquinhar afetos
Pra sublinhar pórticos postiços
Pra domesticar os agoras
Pra soterrar as tardes
Pra abortar as manhãs
Pra subtrair sorrisos
Pra descolorir instantes
Pra solapar momentos
E dos ventos ser arredio!
E das madrugadas ser avarento!
Ter pra que ?
Pra viver soterrado
De entardecer mesquinho!
De sobreviver sem o gozo das asas do mundo
Pintadas com as cores profanas e sagradas
Na ousadia de nada ter
E de ter tudo que me faz ser
Eternamente leve
Eternamente leve
Eternamente leve...
Como a leveza dos sorrisos das manhãs !
14122021