ENTREGA
Mutum morre
E nas águas barrentas de seus rios
Sofrimentos
Somente os peixes sabem perdoar.
Temos as montanhas
As sisudas montanhas que delineiam horizontes
E o ar que respiro roubo da natureza
E dessa evolução lenta
Sem poesia alguma a que nos submetemos.
Nada adianta olhar a fruta em galhos
E pajear as capivaras
O caos vai virando cancro descendo a colina
É preciso ter chumbo para a espingarda e açúcar.
Os coronéis não sabiam que tudo é cíclico
As mortes inocentes gemem eternamente
E o amor pela moça na janela
Embala a vida como gasolina
Em motores excitados.
Então o poema suja o papel
Como se fosse necessário
Para o coração de um povo que ofega
Diante do desafio
E se entrega ao desejo de viver.