DO TEMPO QUE RESSOA
Na boca fechada não entra mosquito
Mosquito sem asa não voa
Da boca calada não se ouve grito
Mas um silêncio que ecoa.
O sujeito passa com passo esquisito
Resquício do tempo que ressoa
Se há pressa é porque está aflito
A aflição é sino que soa.
O que se ouve é estrondo do conflito
Condição para ficar numa boa
Eu rondo pela cidade no seu delito
Delírio de quem ronca e não zoa.
Na estridência da canção do apito
O sangramento de uma pessoa
Eu sei que na vida cada gesto é um rito
Mas o sujeito ri à toa
E cada um quer se tornar um mito
Mais que rir, caçoa.