INSENSÍVEL
Se um beijo tendencioso alcança a alma,
Não mantém por si o amor nas nuvens.
É um barco perdido na maré das ilusões,
Navega no mais insensível dos corações.
É cupido certo com flecha envenenada.
Que acerta em cheio, mas só faz mal.
Vai despindo cruel todo amor próprio.
Com o manto emana uma névoa venal,
E assim veleja, se apega no tempo, tapeado
Maltratado, trôpego pensando ser amado.
Nas noites fugidias mal-amado, dominado,
Mesmo com alguém do lado, abandonado.
Percebe-se um dia. Aquele beijo não valeu,
Pois desiludida sua própria alma recolheu.
Encolhido eis que o amor próprio pereceu
mal, Cambaleou, ao fundo do poço desceu.
Daí que Só restou melancólica despedida.
Com perene adeus, para nunca mais voltar.
Silenciosos lábios fechados, aboliram beijos.
Numa dessas noites de melancolia sem luar.