Desgaste
Duras certezas equivocadas
sorrisos semi cerrados
acertos quase sempre errados
fadados, destroçados
cada pedaço, cada caco,
colado, amarrado
olhos pesados como um fardo
coração acelerado
no peito ta tudo engarrafado
é carro parado em cima de carro
e todos eles têm buzinado
eu finjo não ter escutado
me mantenho calado,
estou enclausurado,
preso num infinito mar apertado
tenho odiado, tenho rebobinado
há muito esgoto derramado
e eu continuo esgotado
cansado,
atleta do fracasso
diariamente premiado
me arrastando depois que sou derrubado
chorar mesmo, não tenho chorado
e isso não quer dizer que eu esteja acostumado
tudo tá rasgado, a rua, o mundo, o peito
a desresponsabilização do Estado
e do meu estado
sigo extasiado
Mas em algum momento tem de ser encerrado
mesmo não querendo que o poema houvesse
parado