Desgaste

Duras certezas equivocadas

sorrisos semi cerrados

acertos quase sempre errados

fadados, destroçados

cada pedaço, cada caco,

colado, amarrado

olhos pesados como um fardo

coração acelerado

no peito ta tudo engarrafado

é carro parado em cima de carro

e todos eles têm buzinado

eu finjo não ter escutado

me mantenho calado,

estou enclausurado,

preso num infinito mar apertado

tenho odiado, tenho rebobinado

há muito esgoto derramado

e eu continuo esgotado

cansado,

atleta do fracasso

diariamente premiado

me arrastando depois que sou derrubado

chorar mesmo, não tenho chorado

e isso não quer dizer que eu esteja acostumado

tudo tá rasgado, a rua, o mundo, o peito

a desresponsabilização do Estado

e do meu estado

sigo extasiado

Mas em algum momento tem de ser encerrado

mesmo não querendo que o poema houvesse

parado

Rangel Paiva
Enviado por Rangel Paiva em 08/12/2021
Código do texto: T7402890
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