Apreensão
No vão entre as vigas
impunemente
a terra fofa desliza.
O aterro bichado,
feito de restos de modernidade,
mostra sua verdadeira cara
sem subterfúgios hipócritas.
Debaixo do sol inclemente
a mina generosa verte sua água
grudando barro em galochas.
Os órgãos vitais da obra
esparramam-se pelos espaços livres
em caos supostamente organizado.
Milhares de britas
aprisionadas em montes,
muralhas intransponíveis
de blocos de cimento
e tijolos caipiras,
baldrames e estribos
azinhavram-se
sob pretas lonas de plástico.
Braços incansáveis,
amontoam a terra traiçoeira
no estacionamento atravancado,
enquanto indiferente,
o céu se veste
de cinza chumbo...
Imagem: "Algo sobre o muro" - Osvaldo Pastorelli