Se pudesse afagar o tempo
Com minhas mãos calejadas
Deita-lo-ia em meu colo,
Cantando uma canção de ninar.
Recostaria-o em meu peito,
Para soar em unidade com as batidas.
Tamanha crueldade
Vê-lo passar ligeiro...
Num sequestro abrupto da inocência.
Dando azar aos ombros
Que carregam o peso de crescer.
É doloroso.
Como é doloroso vê-lo partir.
Sem retorno.
Sacastes a arma e,
Atirastes sem remorso.
Na morte do tempo,
A sepultura é profunda.
Como o remordimento o é.
Se pudesse afagar o tempo.
Recompensaria-o por ter sido certeiro.
Passou, mesmo que ligeiro. Mas passou.
Se pudesse afagar o tempo.
Traçaria o sinal da cruz
em sua fronte.
E enquanto ele dormia.
Alguma razão lhe prestaria..
Para fazê-lo hospedar sentimentos perdidos,
Na guarita da solidão,
até que estanque a chuva das dores,
e o sol apareça como cura.
Se pudesse afagar o tempo.
Se eu o pudesse afagar.
Jamais o teria perdido.