MEUS PALHAÇOS TODOS
Meu lado avesso é palhaço,
meio torto, meio surrado,
capengando de sol a sol.
É lado descarado, desossado,
de viés cabisbaixo, contido,
cheio de senões e poréns.
No entanto, é desnudo de medos,
de rebarbas ou fiascos frugais.
É isento de desatinos, de inércias,
palhaço repleto de coroas, de aplausos.
de vãos, de varandas tantas.
Palhaço voraz, faminto por novos chãos,
novos dilúvios, novos suores.
É ele quem desarma meus motins,
meus alarmes falsos, meus tiros de festim.
Neste palhaço escrachado, soberbo e lindo,
refastelo meus dias sem cabresto,
numa indelével e orquestrada alegoria,
absurdamente cerzida,
palhaçadamente abençoada.