PASSEIO
Diga ao trabalho para não contar
Com minhas mãos
Com minha voz
Com o meu suor
Que ao menos hoje não conte
Com minha frieza sovadora.
Diga ao sol para não me procurar
Pelas calçadas borbulhantes
Entre os transeuntes rápidos
Eu não atravessarei a faixa
Nem pegarei o beco de atalho.
Diga ao GPS que não tente
Localizar-me entre a minha gente
Minha cadeira ficará vazia
Sendo socada pela brisa fria
Eu serei ausência em qualquer
Canto
Deste planeta dinâmico
E diabólico.
É que eu fui abduzido
Por versos extraterrestres
Que me levaram a passeio
Estou além dos muros da via láctea
Colhendo néctar em flores siderais.
Amanhã retorno e distribuo um mel diferente
Para toda a colmeia humana.
Mas o mel do néctar mais especial
Usurpado das gigantes vermelhas
Darei ao meu amor em um beijo profundo.