lembrete para Joana

desse lado da rua, Joana

você não pode saber, terá

que se jogar pra longe das

palavras, os livros que leu,

as histórias que ouviu, não

lhe dará a forma que lhe dão

as coisas que se segura,

desse lado, a floresta é o caos,

e as árvores falam o idioma

que não teve na escola,

teu pai não saberá de seus gritos

e sua mãe, muda, não lhe estenderá

a corda que nos amapara, tudo que posso

te dizer, caso resolva empreender

o seu salto, é que não há nada a fazer,

apenas espere que o anfitrão pergunte

seu nome, á água é escura e o penhasco

nos lembra uma queda estilhaçada,

não compre flores para sua vaidade

o sol não atravessa paredes, mesmo

as imaginadas, rigorosas, se encontrar

alguma mão, mesmo ardendo em brasa,

peça lhe um pouco de ar, um pouco de pele, não

se desespere, pois tudo em outro nível

é mentira, mas ate que descubra isso

essa calçada não é de cedro, ou das

coisas que se manobra, é de ferro

forjado para que consiga viver,

mas ame esse lugar, dê a ele a presença

que nunca teve, o beijo que foi negado,

o abraço que foi impedido, dê teu sorriso,

mesmo que se sinta traída, aprenda a

dançar bambolê, dê um giro na sua

cintura de granito, deixe que o fogo

queime o que não te serve, a calça

apertada, a clausura que lhe engasga, a luz

é intensa e teu coração vai arder conforme

tua luta, conforme teu medo, quando

exausta, não se sinta mal em se deitar

e deixar que o medo evapore, não procure

saídas, nem a mágica que lhe promete o

o campo verde, seja esse tempo, seja

essa casa abandonada, esse clamor que

ferve como uma máquina a vapor prestes

a explodir, exploda junto, sufoque junto,

amanha quando acordar sobre a mesa estará

seu café da manha com geleia e o pão da

vida,

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 25/11/2021
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