quem és tu

que és tu, que embaixo

de minhas as asas não ouve

meu nome, não me acaricia e

é cheio de pavor, quem és tu

que luta comigo pela primazia

sendo que essa primazia nada

nos dá, salvo uma vertigem

de oxigênio, que é tu, que

sabe e vive, come, dorme

ama em sofrimento, quem és

tu, que me saliva como uma verme

por dentro, quem és tudo que

habita o baixo ventre e não

sobe pra tomar um vento, que

me ignora, que me maltrata que

faz do meu viver um tormento,

quem és tu, que, salvo alguns

momento não me diz o seu rosto,

que me dá paz menos paz do que desgosto,

que me prende às vísceras, mesmo

sabendo que a rua borbulha como

eu queria a vida, que me bate sem

dizer o motivo, que se movimenta

sem me dizer pra onde, que brota

dentro da tarde como um poço de fome.

quem és tu, que dia quer noite, noite

quer dia , e dessa bagunça faz chagas

as minhas feridas, que nunca esquece

uma ofensa, raivoso, medroso, como

se isso, pra viver fosse uma essencial

crença, que me afunda se afundamento,

que sou, mas com outra trama, que quieto

me apavora e se movimentando me devora,

que não me ouve ne com alarde, como

se que aprendeste fosse a pura verdade,

que finge aberto, mas cada vez te sinto

recoberto, que desanima á mínima

infâmia, e com isso destrona minha ânsia

que és tu que não passa de um infante,

achando que sabe tudo, mas não sabe

da missa um instante.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 24/11/2021
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