APARECER - DORES II
Aparecer dói
Maior do que a dor
Que faz aparecer essa dor
Esses caleidoscópios de eus múltiplos como súplicas de tuas orgias frias
Como cegos e surdos
Sem cores e sem cheiros - és faróis pra outros egos - cegos das nesgas enviesadas com teus vieses morimbundos
Anêmicos e pálidos
Esses espasmos de aparecer - adoecer
Dessa troca de ter nada por ser tudo
Apetite sem fim de ti mesmo
Faz agonizar as dores
Secas e rudes
De quem ainda beira
Os abismos de si mesmo
Esse doce aparecer
Cúmplice das fragilidades forçosas
De felicidade vendida
A prazo no teu cartão de crédito sem final de mês certo
Esse teu tiro no escuro volúvel
Desprovido de sinceridade!
Esse doce aparecer
Esse adoecer entranhado como verme a sentir nojo de ti mesmo
Esse doce aparecer maquiado do suborno
Do devaneio soberbo
Atrasado e fossilizado por uma frágil e efêmera alegria que afunila e dizima teus dias, tuas horas
Esse teu eu multicolorido com as dores do teu eu mercadoria ambulante
Esse doce amargo
Aparecer na urgência da fadiga de ti mesmo
Esse teu vislumbre narcísico oco tosco que urge no curtume de tuas vaidades
Cansado, com pálpebras elásticas e caídas
Da fornalha fuligem inata
De quem esboça o rascunho de um sorriso flácido torto
Oco e solícito
Promíscuo
Esse aparecer
Doce da amargura obscura e objetiva
Racional e precisa
Viciosa e doentia de se maquiar das mentiras medonhas
Das distâncias de ser quem tu ainda não és
E que ainda vai demorar de acontecer
(raicarvalho)
22112021