Dor visceral

Não quero falar da dor.

Quero falar do belo, do podre

e do austero.

Sim, o podre.

O podre belo

de beleza singular em perfume de carniça

viva.

O cheiro que invade as narinas atentas

e corrói cada válvula sangüínea,

tornando-as moribundas;

assim como, neste momento, estou.

Estou frio e pálido.

Morto-vivo.

Sangue corre?

Não hoje.

Se espalha em todos alvéolos,

em os dois pulmões

contaminados e embelezados

pelo cheiro de vida:

a podre carniça.

Também, o austero. Lindo e presente.

O austero: meu ser;

meu olhar; meu costume.

No fundo. Lá, no coração fatigado –

Penoso e ríspido dicionário de beleza inaceitável.

Ao contrário do que, agora, pensam,

não disse da dor.

Disse da vida, que é real, mística e bela.

Que é a contradição da própria vida;

o pecado e o espelho.

Pois sim, esta vida que levamos

e que nos leva, a cada tempo, à verdadeira – porém mentirosa – dor, que,

todavia, definem vocês por bem e virtude.

Aquela inevitável, vadia e deplorável dor:

O amor.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 16/11/2007
Reeditado em 27/11/2008
Código do texto: T739051
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.